quinta-feira, 26 de março de 2015

Metaforicamente falando

O meu nome é Filipa, vim para este país por opção própria quando foi indicado a todos os jovens que procurassem uma actividade na sociedade para fazer.

Escolhi esta, acompanhar pessoas que procuram fugir da daqui depois de terem visto a sua situação de vida ameaçada. A minha função seria ajudá-las e dar-lhes a conhecer os recursos necessários para conseguirem escapar, para isso tive algum treino, frequentei aulas e estive alguns meses em campos de treino... Escolhi esta tarefa porque me sinto realmente bem ajudando os outros e, também, porque tenho muito que aprender com outras pessoas e vi nesta atividade e neste país uma ótima oportunidade para dar o que já sei e aprender outras coisas, e dessa forma desenvolver as minhas capacidades para fazer cada vez mais e melhor.

Cheguei há uma semana, vinha cheia de receio de não me adaptar, atribuíram-me um chefe que me explicou por alto o funcionamento das coisas e aos poucos fui fazendo aquilo que, com base nas minhas experiências e conhecimentos anteriores, melhor sabia. Não estava a ser nada fácil, porque muitas das coisas são muito diferentes do que aprendi, por aqui.

Ontem, mandaram-me na minha primeira missão, o meu chefe, partindo do principio que me tinha sido dito tudo em aulas, encaminhou-me para o avião e despediu-se de mim. Senti-me meio perdida enquanto o avião subia e o meu coração falhava uma batida sempre que me queria relembrar de alguma coisa que não me vinha à memória ou quando começava a imaginar situações que sentia não ser capaz de ultrapassar sozinha. Tudo o que tinha aprendido até ali parecia tão pequenino quando olhava lá para baixo e me afastava de tudo o que conhecia... a cabeça andava às rodas, só conseguia imaginar maus cenários e procurava mentalmente respostas para eles. Ao fim de algum tempo adormeci.

A viagem foi longa. Acordei com um barulho ensurdecedor, o avião estava a fazer-se à pista. Estava no meio de uma zona árida, era aí que começaria a primeira missão. Remexi nos bolsos para me certificar de que tinha tudo comigo, a lista onde tinha os meus memorandos, a caneta, o bloco... Certa de que me faltaria qualquer coisa, nestas coisas falta sempre, não somos donos do conhecimento por mais que estudemos e pratiquemos, sozinhos não somos ninguém...

Passaram-me uma espingarda para as mãos... Assustei-me, para que era aquilo?!
Deve ter transparecido na minha cara o medo e a preocupação, já entrando para o avião o responsável sorriu e disse: "Não te preocupes, é só para defesa caso necessites, a zona é muito deserta."
"Mas eu não sei como é que isto funciona!" gritei... Mas já ninguém me ouviu.

Fiquei sem saber o que fazer com aquela coisa, não avistava ninguém, não me fora dito para que lado seguir. Assustada de morte sentei-me no meio do nada, perdi-me no tempo... Esperei, não sei pelo quê, nem se essa coisa chegaria, estava completamente perdida. As lágrimas começavam a formar-se nos meus olhos. Ao fundo avistei uma figura, esfreguei os olhos para me certificar de que vinha lá alguém.

Era uma pessoa, que alívio! Mas, entrei novamente em pânico quando na minha memória ressoaram as palavras "É só para defesa caso necessites". Atabalhoadamente peguei na espingarda, certa de que se fosse preciso não a saberia usar, de pouco me valeria, mas não sabia mais o que fazer.

A figura aproximou-se, era uma mulher, ergueu as mãos e chamou pelo meu nome. Suspirei de alivio e deixei-me cair por terra.

Não me lembro do caminho que fiz até aqui. Estou agora junto de uma tribo, na companhia de pessoas experientes nesta missão... Amanhã vou começar tudo de novo, vou recomeçar o meu papel aqui, a ajudar estas pessoas, a dar e a aprender.

Só mantenho o medo de me ver novamente perdida. Sinto, e sei que é da minha cabeça, os olhos deles postos em mim como quem reprova a minha atitude, sinto que no momento, ainda que não tendo forma nenhuma de saber como agir, devia ter sabido fazê-lo... Espero não desiludir ninguém, não queria ser mandada mais cedo para casa...



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